
RESSIGNIFICAÇÃO
DA DOR
A perda gestacional e o luto perinatal podem ser entendidos pela morte de um filho, durante a gestação, no parto ou na primeira semana de vida do bebê. Cada um de nós tem um tempo de vida e o mais importante nesse processo, é saber que somos únicos e insubstituíveis. Quando se escuta que uma mulher passou por uma perda gestacional, ou que seu bebê faleceu logo após o parto, poucas pessoas conseguem acolher a dor do luto de maneira mais empática.
Geralmente, as mães que perderam os filhos escutam muito “logo, logo, vem outro bebê” ou “foi melhor assim”, que são formas de consolar a mãe enlutada. Pode-se entender, nesse processo, como uma analogia com a borboleta: assim como uma lagarta, que para se transformar em uma borboleta passa por uma metamorfose, a mulher, por um determinado período, precisa entrar em seu casulo (o seu luto) e se sentir protegida no período pós-perda. Quando esse ciclo termina, depois de várias mudanças, ela consegue romper seu casulo e liberar suas asas. Ou seja, não sentir tanta dor e tristeza após perda.
Para entender mais sobre esse assunto e esclarecer algumas dúvidas de mães e familiares que não sabem como agir nesse momento, conversamos com a Psicóloga Priscylla Maia, formada pela Uninassau-PB, e é especialista em Luto Perinatal. Nesta entrevista, ela aborda sobre o processo do luto e seus desdobramentos, sentimentos e como conviver com essa nova realidade.
Como acontece o processo de luto perinatal?
Todo luto, independente de qual seja, a mulher passa por várias etapas. Ela passa por um período de aceitação, negação, de barganha. Ou seja, várias etapas. Então, para cada mulher essas etapas acontecem de formas diferentes. Pode ser rápida ou mais lento, esse período precisa de uma elaboração. Para cada pessoa esse processo é singular. Por isso não existe um tempo específico.
Como foi para você acompanhar uma mãe/família que passou por essa situação? Qual sua avaliação?
Já fiz escuta psicológica com algumas mulheres que perderam durante a gestação. Mas em nenhum momento elas deram prosseguimento a terapia. Acredito que elas naquele momento elas precisavam de serem ouvidos e externalizar o que elas estavam sentindo. Mas que talvez não estavam preparadas para encarar um processo terapêutico. Nunca acompanhei como psicóloga, apenas como doula.
Como a família pode proceder e nesse processo?
Durante a perda a mulher se sente muito sozinha. Ela acaba vivenciando não apenas a dor psicológica, mas a física também. Então é importante que a valide o sentimento dela e que não apresse essas etapas do luto. Permitindo que ela chore, que ela vivencie, que ela elabore, até chegar na fase de ressignificação de aceitação. É importante que a família incentive, valide e não negue a existência daquela criança. Tentando se informar e buscar auxílio psicológico ou jurídico, porque pode acontecer da perda ser por negligência médica. A família deve pesquisar e dá apoio. Principalmente, aceitando a dor dela. Não negar que ela existe.
Para as mães, existe alguma Lei que defenda essa mãe?
Eu acredito que a mulher nesse período ela não está muito orientada para procurar essa ajuda. Mas ela pode procurar auxílio psicológico porque ela está muito fragilizada. E respeitar caso ela não queira socializar ou participar de ocasiões festivas. Que ela respeite o momento dela e quando estiver preparada procure ouvidorias de hospitais para saber o que aconteceu, porque assim que acontece algumas informações não são passadas.
De quais formas a família pode ressignificar a perda desse filho?
Cada pessoa, cada família e cada mãe e pai enlutado vai encontrar o seu caminho para ressignificar essa perda. Até porque, a perda de um filho muda a estrutura completa da família e também muda questões emocionais. Afeta muito. Cada casal vai entender esse luto a sua maneira, encontrando uma estratégia para lidar melhor com essa tristeza. É muito pessoal. Por isso cada pessoa vai descobrir o melhor caminho para entender e dá sentido a essa perda. A resposta desse alento muda o sentimento de dor tão pesada aos poucos. Ela vai se tornando mais leve, mais suave até se transformar em saudade.
Como é o acompanhamento psicológico para essa mãe que acabou de perder um filho?
Todo tratamento psicológico é individual. Então, eu não posso afirmar ao certo qual tratamento para o caso "X" porque depende das questões que essa mulher vai trazer para terapia, quais as interrogações dela, quais as angústias. Porque vai além de perder o filho, as interrogações e os questionamentos podem ser vários. Então, a gente vai estar conduzindo de acordo com o que a paciente precisa. Daí vamos utilizar as técnicas, que no meu caso, eu uso psicanálise e associação livre, fazendo a mulher entender por ela mesma suas questões e ela consiga chegar no processo de elaboração dos seus questionamentos.
Além da terapia, quais outras formas de amenizar esse período podem ser úteis?
Grupos de apoio de mães são reconfortantes. O apoio familiar, também influencia nesse processo, se ela tiver esse apoio bem forte auxiliando nesse momento, que entenda o processo que ela está passando. Procurar atividades que ela tenha afinidade ou lazer para que ela possa voltar aos poucos ao convívio social e sair de casa. Se ela tiver alguma religião, se apegar mais. A questão da religiosidade ajuda muito durante esse período ou praticar caridade. Tem pessoas que utilizam essa estratégia para amenizar sua dor. Cada um escolhe o que mais se sente a vontade.
O que significa bebê anjo e bebê arco íris?
Bebê anjo é aquele bebê que nasceu. E que a mãe já nomeou e ela dá o nome dependendo do gênero. Ou aquelas mulheres que tiveram um aborto retido, ou seja, até três meses de gestação.
Bebê arco íris são aqueles nascidos após uma perda de um bebê. Após a mulher perder.
Quais livros você sugere sobre esse tema?
Você pode encontrar na internet alguns livros sobre essa temática disponíveis para download. O livro "Até breve, José”, conta a história de Camila e a perda do seu filho. Uma mulher que escreve para seu filho desde que ele estava em sua barriga até o momento em que ele morre, ainda recém-nascido. Quando ela percebe que outras mulheres compartilham da mesma dor, nasce a esperança que talvez ela não se sinta tão sozinha, tão desamparada. Assim que acontece a perda, acredita que só acontece com ela e que outras mulheres não vivenciam.
Para a família, "Como Lidar com o Luto Neonatal" - Heloísa Salgada e Carla Hipólito, é um guia para os profissionais de saúde e para a família entender o que está acontecendo com a mulher que sofreu essa perda. Seja fisicamente ou psicologicamente e como eles podem auxiliar. Como falar, como abordar e como acolher essa mulher durante o processo de luto.

Quando esse ciclo termina, depois de várias mudanças, ela consegue romper seu casulo e liberar suas asas

Para cada mulher, essas etapas
acontecem de formas diferentes.
Pode ser rápida ou mais lenta,
esse período precisa de uma elaboração.
Priscylla Maia,
Psicóloga Especialista em luto perinatal
As fases do luto
O processo de luto percorre algumas fases. Conheça as 5 elaborada pela psiquiatra alemã Elisabeth Kubler-Ross, especialista no assunto, e que torna fácil o entendimento.
Infográfiico: Elaboração da equipe com bases nos estudos da psiquiatra alemã, Elisabeth Kubler-Ross
