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DO LUTO
Humanização
Projetos de Leis auxiliam na humanização do luto das famílias que perderam seus filhos
Há algumas iniciativas por parte do poder público que tentam reconhecer o luto das famílias que perdem o bebê ainda na gestação ou recém-nascido. E há motivos para comemorar. Em Goiânia, no dia 15 de outubro de 2019, foi sancionada a Lei No. 10.408, conhecida como Lei Gregório, projeto de Lei que institui no calendário oficial daquele estado, a inclusão da Semana de Sensibilização à Perda Gestacional, Neonatal e Infantil justamente no dia em que se comemora essa causa ao luto invisível, data comemorada mundialmente. A propositura do Projeto de Lei, partiu do assessor correicional Felipe Aire Gonçalves, 34 e de sua esposa, a assistente social Sherloma Starlet Fonseca, 35, após vivenciarem a experiência da perda do primeiro filho, Gregório, apelidado por eles de "Greg". Devido à prematuridade, ele nasceu em 28/02/2019 e viveu por apenas três dias.
Ao se depararem com o luto do filho recém-nascido, o casal vivenciou a perda dolorosa nas mãos de profissionais com a situação, ou seja, tiveram uma assistência humanizada, ao mesmo tempo que experimentaram o gosto amargo da frieza e insensibilidade com a causa, demonstrando em muitas vezes, a falta de uma preparado humanizado para lidar com as famílias enlutadas. “Isso aconteceu a todo momento. E percebemos a diferença que cada atendimento fazia em nossas vidas. Quando recebíamos bons atendimentos pensávamos: "se está difícil para nós que temos essa oportunidade de sermos atendidos por profissionais bons, imagina para quem não tem essa oportunidade", relembra Sherloma, que, além desta questão, se depararam com dificuldades em relação à garantia dos direitos.
Sherloma Starlet
A proposta é dar visibilidade a causa, permitir espaço para que as famílias contem suas histórias, ir a faculdades, promover palestras, rodas de conversas, cartilhas...
Enfim, informar para mudar

A partir destas inquietações sentidas na pele pelo casal num momento em que deveriam receber acolhimento e suporte emocional pela perda do filho, a ideia foi apresentada ao vereador Andrey Azeredo (MDB), que abraçou essa causa junto ao casal. Em junho do mesmo ano, a propositura do Projeto de Lei foi apresentado na Câmara de Vereadores do Município de Goiânia, e em outubro, sendo sancionada pelo prefeito, Íris Resende. Sherloma conta que esse Projeto é inspirado no trabalho do Grupo Transformação de Araraquara (Grupo de apio à perda gestacional) que conheceu em pesquisa pela internet.
Ambos projetos (Araraquara e Goiânia), tratam de inserir no calendário oficial do município o dia de Sensibilização/Conscientização sobre perda Gestacional, Neonatal e Infantil. “No nosso projeto, de Goiânia, realizamos algumas modificações. Inserimos a perda infantil e demos mais enfoque de política pública, uma vez que o município de Goiânia passou a assumir a responsabilidade efetivação da Lei, ou seja, de realização dos eventos, em parceira com a sociedade civil”, ressalta a assistente social.
De acordo com o art.1o. da Lei, além de ser instituída no calendário, dia 15 de outubro poderá ser celebrado com outros atributos: reuniões, palestras e divulgação de cartilhas para aumentar a conscientização sobre o impacto emocional da morte no período pré, peri e neonatal, tal como infantil, na vida da família enlutada. Além disso, promover a humanização do atendimento, sobretudo nos serviços de saúde, com o oferecimento de apoio multiprofissional aos pais.
A ideia principal da Semana de Sensibilização instituída pela Lei Gregório é informar e comunicar, bem como estimular condutas profissionais mais humanizadas dentro de uma realidade dolorosa. “A proposta é dar visibilidade a causa, permitir espaço para que as famílias contem suas histórias, ir a faculdades, promover palestras, rodas de conversas, cartilhas. Enfim, informar para mudar”, comemora Sherloma.
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Fotos: Secretaria de Saúde do Estado de Goiânia
Ouça - Podcast De Colo Vazio
No Piauí, o Deputado Estadual Franzé Silva (PT) é autor do Projeto de Lei que também institui o Dia Estadual de Sensibilização à Perda Gestacional e Neonatal, já vivenciado em outros países e em algumas cidades brasileiras. O projeto foi apresentado em 15 de outubro de 2019 no plenário da Assembleia Legislativa. A data da Sensibilização da Perda Gestacional, Neonatal e Infantil surgiu em 1988, nos Estados Unidos, como forma de sensibilizar a população daquele país sobre esta causa. Em 2002, o grupo de pessoas daquele país que iniciou o movimento cresceu e o tema ganhou maior notoriedade em todo território americano, se espalhando para outros países. No Brasil, o dia já foi instituído em alguns estados como São Paulo e Goiás. Na Paraíba, essa Lei ainda não foi institucionalizada.
Documento assinado pelo Deputado Estadual Franzé Silva que institui o Dia Estadual da Perda Gestacional e Neonatal, no Estado do Piauí.
Fonte: Portal R10.com
Entrelaços de Apoio

Ter apoio na hora da dor faz sempre a diferença. Poder conversar com outras pessoas que passaram por situações dolorosas parecidas e trocar experiências é importante para aprender que é possível seguir em frente. Assim fazem algumas mães que perderam seus bebês ainda durante a gestação, no nascimento ou após. É possível encontrar nas redes sociais, perfis de Grupos de Apoio sobre essas mães, conhecidas como “mães de anjo”, que falam sobre o luto após a perda dos seus desejados filhos.
No Instagram, há vários grupos onde as mães falam sobre a história dos seus filhos, sua trajetória e perda, agora são anjinhos. Nestes espaços, elas também contam como conseguiram superar essa dor que parecia insuperável, além de postar mensagens de amor aos seus filhos. Já no Facebook os Grupos de discussões possibilitam a postagem de fotos das gestação, dos bebês e também contar a história de suas perdas e troca de experiência sobre superação. Alguns desses perfis e grupos organizam encontros presenciais entre essas mães, que acabam gerando ações que transformam a dor em amor, numa roda de ajuda mútua.
Pioneiro no Estado, em Campina Grande, o Grupo Reconforto, fundado em 05 de outubro de 2019, vem atuando neste segmento para apoiar e acolher as famílias que estão passando por essa situação delicada na cidade e região, cuja principal filosofia é “escutar, acolher, informar, reconfortar”. A ideia surgiu no mesmo mês em que se comemora em todo o mundo o a Sensibilização da Perda Gestacional, Neonatal ou Infantil, numa corrente global que une mães de diversos países com a finalidade de chamar a atenção social para esta causa.
As ações do Grupo versam sobre marcação de encontros presenciais com as mães/famílias de anjos que desejam participar e conta com profissionais da saúde como Fisioterapeuta, Psicóloga especialista em luto perinatal/gestacional, dentre outras especialidades. Ainda por ser uma temática pouco explorada na pauta social, muitas famílias ainda se mostram tímidas para compartilhar suas experiências, mas, ao mesmo tempo, se engajam fortemente nas redes sociais, fazendo com que esse movimento cresça. O Reconforto realiza encontros presenciais mensais, mas a interação ocorre nas redes sociais, como Youtube, Facebook e Instagram.
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Assista - MiniDoc Mãe de Anjo
especial. JANAYNA
Outros Grupos de Apoio pelo Brasil
Fotos: Arquivo Grupo Reconforto