"Ninguém está preparado para a morte. Nenhuma mãe está preparada para a morte de um filho.", afirma Viviane Dantas, mãe de Francisco, que faleceu aos três meses de idade, em Campina Grande. Não há nada mais triste do que uma mãe chorando a morte de um filho. Ninguém sente dor maior, pois foi ela que gerou, que carregou por meses a criança. Faz dois meses que Viviane tenta sobreviver a morte de Francisco, aquele garotinho que ninguém “botava fé” a não ser o neurocirurgião e a obstetra.
Ao escutar frases como “seu filho é irreversível”, “não adianta” ou o espanto da equipe médica ao ver Francisco sair de mais uma cirurgia vivo, deixava Viviane mais convicta da desumanização dos profissionais da saúde e a certeza que seu filho merecia viver. Cabeça baixa, garganta seca, mãos atordoadas, Viviane fala “Antes de ser um paciente, ele é filho, ele é o amor de alguém... Até quando um diagnóstico é maior que um ser humano?" indaga emocionada.
Ao participar da reunião do grupo de apoio à perda gestacional, estas mães de anjos, como são conhecidas, vivenciaram o gosto amargo de perder um filho. Cada uma com sua história de caráter único, de dor e luto. No entanto, compartilhando a mesma dor, estas vão em busca de acolhimento, afeto, respeito, humanização do luto e ações que amenizem a dor, através de Grupos de Apoio.

Viviane Dantas,
Mãe de Francisco
Há muitas negligência e frieza por parte da equipe médica que deveriam ser mais humanos

Renata Fabrício,
Mãe de Joaquim
É uma dor eterna que a gente vai levando a vida com ela ali, escondida em nós.
Dor e Culpa
“A gente não é menos mãe ou mais mãe se o filho da gente vive três anos ou três meses.”, pondera Viviane, mãe de Francisco.
Ao escutar o relato de Viviane, os olhos de parte das mães que escutam, se enchem de lágrimas. O corpo fica estático e mãos inquietas ao observar o compartilhamento deste relato, que, diante dele, vive a dor que esta mãe compartilha e relembram de sua própria perda. Josilma Duarte, outra mãe de anjo, relata que “tem horas que as lágrimas falam por a gente”. “Era uma gravidez perfeita, e de repente, eles são frios em te dizer”. ressalta ela, mãe de Arthur, que partiu depois de três dias de nascido.
"Na maioria das vezes, as mães se sentem culpadas pelas perdas de seus filhos, colocam sempre a culpa nas mães, como se fosse uma doença, como se as outras grávidas não pudessem chegar perto da gente que é mãe de anjo." afirma a mãe de Arthur, que completa dizendo “tem que ter alguém para culpar e culpam as mães. E nesse caso, escolhem a pessoa que mais sofre com tudo isso, a mulher. Só sabe e entende essa dor quem passa.".
Desumanização
A maioria das mulheres/mães procuram reconforto. No entanto, elas concordam com a mesma ideia da desumanização dos profissionais da área da saúde. A frieza com que falam com as mães que acabaram de perder seus filhos, ou no caso de Janaína, quando estão no processo da perda “É só esperar ela disse quando eu estava sangrando muito e perdendo meu filho, ela disse que não poderia fazer nada. Eu só chorava”, relata Janayna Araújo, mãe de anjo do Vladmir e da Maia.
Acolhimento
Em um encontro ocorrido no final de 2019 com o Grupo Reconforto, muitas mulheres relataram suas dores, sentimentos e luta para seguir suas vidas com seus berços vazios.
. Ao relato de cada uma, as outras se comovem e humanizam a dor desta mãe. É necessário respeitar a dor e cada etapa dela.Ao final do encontro, uma roda de amor e acolhimento foi feita entre as mães presentes. Com os olhos fechados, o pensar, o relembrar aquilo que foi bom, traga um novo começo, e as lágrimas marcam uma nova jornada de amor e aprendizado. Como coroamento deste momento, a música "Recomece", de Ana Vilela e Thati finalizou mais um momento de afeto.
Assista - MiniDoc De Colo Vazio
especial. RENATA
O período gestacional se mostra como uma fase em que há a transformação da mulher: ela faz a travessia de filha para mãe. Essa etapa envolve um período de reestruturação corporal quanto também psíquica, uma vez que há muita expectativa em relação ao novo ser que vai nascer. Quando uma gestação é interrompida, todos os sentimentos de raiva, negação, frustração passa a ser cotidiano e inicia-se o processo de luto que começa a ser enfrentado pela família. A perda de um bebê está intimamente relacionada à perda de um projeto de vida, de um sonho, de uma realização.
A perda Perinatal (perda ocorrida a qualquer momento da gestação até o primeiro mês de vida do bebê) é um problema obstétrico que atinge cerca de 30% das gestações. No Brasil, a perda perinatal pode ser uma das causas principais da mortalidade infantil. A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) conceitua o óbito fetal como: A morte de um produto da concepção, antes da expulsão ou da extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez; indica o óbito o fato do feto, depois da separação, não respirar, nem apresentar nenhum outro sinal de vida, como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical, ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária.
Para uma segunda gravidez, a mulher precisa superar a “síndrome da criança de substituição”, quando acontece aquele sentimento de que o outro bebê vai substituir o que vai nascer e em geral, ocorre no primeiro ano pós-perda perinatal. A seguir algumas dicas sobre o planejamento de uma gravidez pós-perda.
O tempo recomendado
Na realidade, o tempo que uma mulher espera para voltar a engravidar depende sempre do tipo de perda que experienciou, mas geralmente, são necessários cerca de 6 meses para recuperar a condição física. Este é o tempo mínimo necessário depois de uma perda, em que o útero e o corpo necessitam para sarar.
Depois de um aborto espontâneo, usualmente as perdas sanguíneas param passado uma semana (caso isto não aconteça, deverá dirigir-se ao seu médico assistente). A exaustão também poderá apoderar-se de si durante alguns dias. Tudo depende da sua perda, caso tenha acontecido um aborto espontâneo sem perdas de sangue prolongadas, é provável que vá ovular dentro de 2 a 4 semanas depois do aborto. Para saber se está a ovular, verifique a temperatura corporal, ou observe o muco cervical, desta forma saberá se a ovulação está a ocorrer.
Mesmo no caso de um aborto, em que tenha sido necessária uma curetagem para o completar, o seu período menstrual pode surgir cerca de 28 dias depois, e a ovulação pode ocorrer passadas 2 semanas, levando assim cerca de 1 mês a 6 semanas para o seu corpo voltar ao normal. Porém, o ciclo pode levar meses a regular-se.
Pesquisas sugerem que o risco de sofrer um aborto, na próxima gravidez, aumenta em 50% caso não espere por voltar a ter um ciclo regular antes de voltar a tentar.
Caso tenha tido uma gravidez ectópica – onde o ovo fertilizado se implanta numa das trompas de Falópio ou fora do útero – é muito importante que seja acompanhada pelo seu médico para se certificar que não está a passar por outra gravidez ectópica, e que esta gravidez de facto acontece no útero.
Quando voltar a ter relações sexuais
Depois de uma perda relacionada com o aborto, é importante que não tenha sexo logo de seguida, pelo menos enquanto as perdas sanguíneas não tiverem parado. Enquanto estiver a recuperar, as relações sexuais podem provocar infecções. Mesmo antes de aparecer o período menstrual, deve usar contraceptivos. Logo que o corpo perceba que não está grávida, ele trata de fazê-la fértil de novo, mesmo antes do primeiro período menstrual, por isso, dê tempo ao seu corpo para recuperar.
Usar o tempo em seu favor para
um novo começo
Nem sempre o tempo é o maior determinante da altura para voltar a conceber, muito embora, também dependa do seu estado emocional. O tempo necessário à sua cura emocional só dependerá de si. Umas mulheres estão prontas a engravidar de novo logo depois de uma perda, outras demoram mais tempo. Tudo varia de mulher para mulher e, no seu caso, tudo dependerá de si. A perda que sofreu poderá significar um período de tempo maior ou menor sem pensar em tentar engravidar. Não se preocupe, quando chegar de novo à altura, você saberá.
Terapia: concepção
Por vezes o tentar conceber de novo pode ser muito terapêutico, mas claro, isto também varia de mulher para mulher. Enquanto umas mulheres conseguem ultrapassar uma perda com uma nova tentativa de conseguir uma gravidez bem-sucedida, outras não vêem solução nesta decisão. Analise bem os seus sentimentos, seja sincera consigo, e tente perceber se esta solução é a indicada para si.
Pergunte-se
Está pronta para voltar a conceber, uma vez mais? Quer demore meses ou anos para começar a tentar engravidar de novo, saiba que o seu coração irá guiá-la neste processo de decisão. O coração também tem de sarar, e só você saberá se ele está curado.
Depois de uma perda, muitas mulheres sentem-se isoladas ou com vontade de o fazerem, enquanto outras gostam de conversar acerca da sua perda. Tente compreender que nem todas as pessoas vão compreender as suas emoções, para uma pessoa que não esteja a acompanhar a situação, uma perda geracional é apenas mais uma. Porém, saiba que conversar acerca das suas emoções é essencial, especialmente com o seu parceiro e família. Não guarde tudo para si, mantenha não só o corpo saudável, mas também a sua mente.
Fonte: De mãe para mãe